“Simplesmente olhe em sua volta, não tem aqui ninguém da sua cor”

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Mesmo sendo uma "Cidadã do mundo”, Essefa teve dificuldades para se adaptar em Moçambique, sua terra natal, e em Portugal, onde viveu por 10 anos. Entenda como ela enfrenta o preconceito e os estigmas sociais para correr atrás dos sonhos e manter o sorriso intacto.

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Medicina x Gestão

Eu tive uma infância normal, brincando de boneca e visitando as amigas em Maputo, Moçambique. Apesar de nascer e crescer em Moçambique, estudei em uma escola Portuguesa lá, o que estreitou os meus laços com o País.

Estudei a vida toda para fazer medicina, mas no dia em que eu fui me inscrever na faculdade em Portugal, me inscrevi também em gestão. Meu pai dizia que eu não tinha jeito de médica porque gostava de usar unhas compridas e outras coisas - e no fundo, eu sabia que ele estava certo.

Aos 17 anos, deixei Moçambique para estudar em Portugal, ainda sem saber com qual estudo seguir. No avião, acabei escolhendo gestão. Na hora pareceu que eu estava perdendo alguma coisa ao não escolher medicina. Foi difícil, mas eu aprendi a ser mais madura pois tomei a decisão que fazia mais sentido naquele momento. Muitas vezes nós amamos alguma coisa, mas não podemos ter daquela forma. Sempre fui apaixonada por muitas coisas, e não podemos ter tudo.

Falando em paixão, sempre amei aviação. Quando era mais nova, meu pai sempre me levava ao aeroporto aos finais de semana. Nosso divertimento era ver os aviões decolarem. Eu sempre dizia que queria ser piloto, mas infelizmente por causa dos óculos… Pilotos têm que conseguir ver. Essa é uma das coisas que eu não consigo fazer: Ver bem.

Não pertencimento

A Europa parece um continente durante o verão e outro durante o inverno. As aulas começam em Setembro e estava tudo maravilhoso, mas no meio de outubro eu já queria voltar. Ninguém mais dizia bom dia, as pessoas estavam todas sisudas, preocupadas em fazer a vida delas. É um povo muito amável, mas no inverno, fecham-se.

Depois de gestão eu voltei para fazer mestrado em contabilidade, dois cursos com aquele padrão de pessoas arrumadas e sérias. Eu não estava nos padrões, nunca ia ser mais clara ou ter o cabelo liso.

Um dia, fui à uma entrevista e me disseram: “Desculpe, mas você foge dos padrões”. Perguntei o motivo, já que tinha um ótimo currículo: “Olhe em sua volta, não tem aqui ninguém da sua cor”.

Depois eu percebi que não era só comigo. Encontrei outros dois amigos - cursos diferentes do meu - os três negros fazendo entrevistas ao mesmo tempo, e acontecia a eles também, então meio que riamos. Essa é uma realidade, não sei se as coisas um dia vão mudar, não sei se as pessoas um dia vão começar a ter oportunidades por mérito, e não porque elas são brancas ou pretas.

Não só sofri racismo no mercado de trabalho mas também na minha relação atual. Os mais velhos da família do meu noivo também não acreditaram quando comunicamos que íamos casar. Durante os 10 anos de namoro, acreditaram que era só piada.

Quando acabei a licenciatura em gestão, voltei para Moçambique e trabalhei por um ano em um banco, e detestei. Não o trabalho no banco, mas as pessoas com uma cultura "diferente". Eu sou moçambicana, negra, mas estava habituada com a cultura portuguesa e não com a africana, me sentia mais em casa em Portugal, com família e amigos por perto, mas eles não entendiam isso.

Eu voltava do trabalho todo dia a chorar, eu não sabia a que mundo pertencia. Existe aquele preconceito de que o branco português escravizou o negro, então não é amigo. Isso está relacionado às raízes como: “Olha, ela é moçambicana, é preta e está aqui a dar-se melhor com o colonizador”

Lembro que eu não era bem aceita nos dois países. Em Portugal eles diziam: “Volta para Moçambique que a sua terra é lá”, e em Moçambique diziam para voltar a Portugal. E eu, com 21 anos, perdida em Maputo e pensando: ”Vai lá, de onde é que eu sou?”

Percepção

Eu era a única negra na escola portuguesa e me chamavam de King Kong por causa do filme. Eu sofri isso desde cedo. É claro que hoje isso ainda magoa, mas não como antes. Eu fiz terapia, já fui ao psicólogo e desconstruí completamente isso na minha cabeça.

O melhor que eu tinha a fazer é ser feliz, aceitando a forma como eu sou, sem interiorizar o que falavam, conhecendo o meu melhor - também através da terapia - fazendo o exercício de dentro para fora e não de fora para dentro, que é o que a gente está habituado a fazer.

Eu percebi que eu sou cidadã do mundo. Se me mandar para o Brasil, eu vou viver lá com os brasileiros. Eu realmente tenho essa facilidade: Me adapto facilmente aos lugares. Naquela altura, eu pensava que o necessário era a sociedade adaptar-se a mim, não o contrário.

Por eu ser mulher e negra, muitas oportunidades são tiradas. Na entrevista para a empresa que eu estou (em Moçambique), a primeira pergunta foi: “Quando você pretende ter filhos?” A justificativa era de que as mulheres poderiam deixar a profissão de auditoria de lado. Eu não tive reação. Isso é o mais humano que podemos ser e, oras, os homens também têm filhos.

Ser mulher e ser negra é ser muito forte. Nós não temos as mesmas portas abertas. Uma mulher negra está passos atrás de um homem branco. Mas hoje, fui promovida e lidero equipes. Mesmo começando de mais longe, eu consegui.

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Eu conheci a Wise justamente porque não gosto dos bancos, das filas, tudo o que eu puder fazer pelo telemóvel, melhor. Precisava enviar dinheiro à uma amiga e, depois da recomendação e da transferência em duas horas, honestamente, com as taxas oferecidas, eu adorei.

Eu transfiro dinheiro agora e daqui a duas horas o dinheiro vai entrar na minha conta do banco. Se eu fizesse isso em um banco, demoraria muito mais tempo.


Entrevista de Vinício Mancuso exclusivamente para a Wise. Fotos fornecidas pela Essefa de Melo


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